Vivemos cada vez mais mergulhados numa sociedade na qual o apelo ao consumo e o vazio existencial são pulsantes. O conceito do “descartável” foi associado durante muitas décadas à ideia de “modernidade”, de “praticidade”, de “solução”; este conceito, porém, ultrapassou os limites da produção meramente material/ industrial e tornou-se também uma constante das relações humanas, especialmente com o advento das tecnologias de comunicação virtuais. Essa nova configuração das relações trouxe uma angustiante sensação de falta de perspectiva de futuro, com consequente aumento dos quadros de depressão das populações em, praticamente, todas as partes do mundo. Além disso, a “praticidade” do descartável não encontrou compensação em investimentos suficientes para uma sustentável reinserção destes materiais através de programas de reciclagem, cabendo aos escassos aterros sanitários o recebimento deste descarte, gerando altos teores de poluição e subsequentes prejuízos ao meio ambiente e ao planeta como um todo.
Re-significar utilizando-se da ferramenta ARTE como aporte, diante desta realidade inundada de dúvidas, carências e ansiedades, e deficitária de significados torna-se ato poderoso e necessário. Associar a essa potência a capacidade de transformar materiais recicláveis que se tornariam lixo em obras escultóricas materializa e aponta para as diversas possibilidades de transformações, sejam externas, podendo esses indivíduos multiplicarem os conhecimentos adquiridos, em suas casas ou até mesmo na comunidade onde moram; ou internas, como uma importante metáfora de que é possível “enxergar” novas soluções e conexões para os próprios anseios e questões.
Portanto, transformar materiais que virariam lixo em esculturas e apresenta-las ao público através de exposição aberta é uma maneira poderosa de demonstrar às pessoas que “é possível”, sejam quais forem as causas. E a exposição destes trabalhos, aberta ao público em geral, amplia a abrangência destas ações para além do grupo diretamente envolvido nos processos criativos da oficina.